Foram necessárias 14 horas, com um peso de 30 quilos nas costas, para que o guia de montanha e instrutor de escalada paraense Gideão Melo conquistasse o primeiro highline do Dedo de Deus. A travessia sobre uma fita de 45 metros de comprimento a 480 metros de altura e 1.480 metros de altitude foi montada entre os dedos polegar e indicador do pico.
— Planejava há algum tempo abrir um highline na Serra. Já tinha feito waterline (versão do slackline sobre águas) na piscina do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, mas atravessar essa linha, que batizei de Impressão Digital, da forma desbravadora, foi como realizar um sonho. Uma conquista, sem dúvida, importante para o esporte no Brasil — afirma o atleta.
Melo explica o motivo da escolha do Dedo de Deus:
— A escalada do Dedo de Deus é um símbolo do montanhismo brasileiro. Foi uma das mais impressionantes que já fiz, com linhas espetaculares. Para que esta ação se tornasse um marco no esporte, escolhi este lugar como a primeira montanha da região onde a modalidade foi praticada — afirma Melo.
Acompanhado por três amigos, um fotógrafo, um montanhista e um guia de escalada, no dia em que o highline foi montado, Melo lembra que o vento quase o impediu de atravessar a linha.
— Depois que o highline foi montado, a conquista já tinha sido feita, mas eu queria realizar a travessia. Fiquei um tempo esperando e quando veio a calmaria, consegui fazer o que desejava — afirma o guia.
A adranalina é a maior sensação que Gideão tem ao pisar em uma fita de highline. No entanto, o medo não deixa de se fazer presente.
— Tenho respeito pelo medo porque ele significa segurança. Quando você sente o medo, você começa a olhar tudo em volta para se certificar de que está seguro. Ignorar o medo é ignorar o risco. Apesar disso, para fazer a travessia, é preciso controlar essa sensação. O medo é causado pela adrenalina.
Não faltam palavras para Melo descrever sua vivência ao praticar o highline:
— O que se sente é algo inexplicável: você vê a dificuldade do lugar, sente a perna tremendo... Só você ou quem está junto consegue compreender a sensação. Parece que a mente entra em conflito. Uma voz fala para parar e a outra, motiva. Quando tudo está sob controle, o aspecto positivo vence e você consegue se superar. Ao chegar do outro lado, eu dou um grito para descarregar a adrenalina. É muito louco e ao mesmo tempo não tem nada de insano porque tudo é feito com segurança. A sensação é prazerosa, de superação. O highline é isso, uma superação a cada passo — emociona-se.
Para Melo, o maior desafio foi esperar tanto tempo para a realização de seu projeto, um sonho antigo que, infelizmente, demorou a sair do papel por falta de patrocinadores.
— O highline da Serra foi ficando de lado porque na verdade é um hobby. Não tenho patrocínio e me esforço muito tentando achar apoio. É difícil ser atleta no Brasil. Agora foi o momento: consegui alguns auxílios, além da autorização do Parque Nacional da Serra dos Órgãos — lembra Melo.
Agora que o highline do Dedo de Deus se tornou um legado para o esporte, o atleta já planeja novas conquistas.
— Pretendo abrir mais linhas de highline na região. Estou estudando. Os pontos de segurança que eu deixei no Dedo de Deus ficarão para a vida inteira. Os primeiros grampos batidos lá, em 1912, ainda são encontrados. O Dedo de Deus tem tudo para se tornar referência no esporte, pela altitude, beleza e por ser um dos mais propícios — destaca Melo.
Fonte: O Globo
Foto: Istácio Vieira
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